22 de março de 2011

ACTO II

Cena Um

Francisca está sentada no cenário correspondente ao apartamento de Luísa e, na mesa, estão colocadas várias folhas que tenta organizar. No entanto, apesar deste movimento mecânico há uma folha que acaba por lhe prender a atenção. Segura na mesma durante algum tempo e lê:

Francisca:  Quando gostamos de alguém, nós damos o braço, o coração a torcer. Tudo sem que a pessoa se aperceba. E nós vamos, devagarinho, aceitando os murros no estômago ou as palmadas invisíveis que elas nos dão. Oferecemos a face, o corpo, em prol de um amor. De um fio condutor de uma vida que nos uniu. E cada ignorar, a cada esquecimento da nossa existência, repetimos num fôlego de pensamento, como mantra, que no fundo ainda há uma réstia de esperança que nos une. E que embora as pessoas que nós amamos, e sem as quais conseguimos viver, sejam capazes de viver sem nós, temos de nos habituar a viver sem as mesmas.

Ámen.


Porto, 1997



Francisca fica parada a olhar o público enquanto a luz se vai enfraquecendo até apagar.

Sem comentários:

Enviar um comentário