1 de março de 2011

ACTO I

Cena Um

Quando o público entra as duas divisórias do palco devem estar suficientemente iluminadas. Quando o público está convenientemente organizado e preparado para assistir à peça, apagar-se-á a luz da divisória correspondente ao apartamento de Luísa e Carlos, para que a acção se inicie no apartamento de Francisca e Tomé. O apartamento deve estar parcamente mobilado: um sofá, armários de cozinha e uma mesa ao centro serão o suficiente.

Entra Francisca, liga mais uma luz para aligeirar o ambiente. Pousa o casaco, espreguiça-se e esfrega a cara como quem está cansada, mas feliz por estar em casa. Corre os armários à procura de comida até que se decide por umas bolachas que retira da gaveta. Senta-se no sofá, retira o jornal da carteira, e começa a ler.

Francisca: Pff! Sempre as mesmas notícias. O mundo está a ruir. O país está a ruir. Nós estamos numa ruína. É tudo muito triste? (vira a cara para o público) É. (continua a leitura do jornal.) Mas ninguém faz nada. E quem se decide a fazer…Ninguém apoia.

(pausa. O telemóvel toca.)

Francisca: “Estou? Olá querido! Sim, já estou em casa. Não, ainda não fiz o jantar! Mas, acabei de chegar! Tomé, não comeces, e olha já que estás na rua traz o jantar, por favor. Sê um bom menino, ‘tim? Vá, beijo.”
Arre! Pergunto-me quando é que os homens conseguirão efectivamente perceber que ser mulher não é condição e que não pertencemos numa só divisão da casa. Parece que nascem com isto gravado no ADN.
(pega no telemóvel.) Mas, vá, nós mulheres sabemos que os homens precisam de carinho. Vou mas é mandar-lhe uma mensagem só para mostrar que não estou aborrecida e assim ainda o amoleço e, para além do jantar, ainda me traz sobremesa.

Luz.

Cena Dois

Francisca está levemente adormecida no sofá coberta pelo jornal. Tomé entra com duas sacas.

Tomé: Já dorme? Esta rapariga passa o tempo a dormir, onde quer que caia…adormece! Francisca? Francisca! Trouxe o jantar.

Francisca: Tomé, amor! Desculpa, estava aqui a passar os olhos pela secção de anúncios de empregos no jornal e acabei por adormecer.

Tomé: Pooois.

Francisca: Estou cheia de fome. O que é que trouxeste?

Tomé: Pizza. E também trouxe sobremesa!

Francisca (a encarar o público): Eu bem disse.

Sentam-se a jantar.

Tomé: Então, nada de novo?

Francisca: Nada. Andei a entregar currículos, mas não me parece que vá ter alguma resposta em breve. Se bem que…

Tomé: Se bem que…?

Francisca: Hum, ali no jornal, tinha um anúncio de uma escritora à procura de assistente. Pensei que, se calhar, seria uma área bem indicada para mim…

Tomé: E porque não? Eu acho que devias ligar, já vimos que a fazer o teu trabalho as coisas não te correm muito bem. Pode ser que quanto ao trabalho dos outros…

Francisca: Que piada! Até parece que tens razão de queixa. My job is to love you and I’m a great lover.

Beijam-se.

Tomé: Sim, lá nisso tens razão. E se me amares te pagasse bem ao final do mês, por esta altura estavas milionária.

Francisca: É, mas amanhã vou ligar-lhe, não perco nada e até pode ser uma grande oportunidade!





Luz.



1 comentário:

  1. «É tudo muito triste? (vira a cara para o público) É.» - gosto

    «Francisca (a encarar o público): Eu bem disse.» - n é de todo necessário ela falar

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